quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Exercício 1

O medo da pobreza e da feiúra só é suplantado pelo temor à morte. Em uma sala escura, engolida pelas imagens de corpos seminus e degradados, quase posso sentir o cheiro da urina que deve emanar daquelas ruas quentes. Cracolândia, Minas, Nordeste. No final, dá tudo no mesmo. É o Brasil, tão rico e tão pobre. 

Os olhos do artista parecem se dirigir justamente para aquilo que todos os outros preferem ignorar. Como encontrar beleza no horrível? Felicidade (aparente? resignada?) em meio à desgraça urbana? 

E de que adianta olhar para esse retrato, para essas pessoas, como se minha vida fosse diferente? Meu cotidiano não é mais significativo que o deles. O de ninguém deve ser, aliás. Onde nasce o valor ou o significado é algo que ainda não descobri. 

Ruídos de sexo enchem meu ouvido, enquanto o cheiro de mijo ainda não abandonou minhas narinas. E como o Roberto Carlos se encaixa em tudo isso?

Quando aquilo que beira o ultrajante tenta ser sensual, não consigo deixar de pensar em John Waters. Em nossas ruas, encontramos mil Divines, só esperando um diretor para filmá-las e chocar a classe média conservadora. 

Será que, apesar de todos os meus esforços, consegui escapar do conservadorismo da classe média? Dos olhares viciados, valores incutidos e não pensados? 

O que mais me fascina na arte é seu poder de levantar interrogações justamente quando achamos que estamos perto de alguma certeza. Encaramos o abismo. E, se formos corajosos, reconhecemos que ele faz parte de nós. Assim como o salto, a queda e o voo. Sublimação.
Caroline Carrion    escreveu olhando para Miguel Rio Branco, Nada levarei qundo morrer aqueles que mim deve cobrarei no inferno

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